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Quem nunca leu ou ouviu por aí a famosa alegação de que “Mulher não sabe jogar”?

Em 2017, nós mulheres respondíamos por 52,6% do número total de gamers brasileiros. Mesmo assim, sofríamos e continuamos a sofrer com o machismo, preconceito, assédio, insultos e ameaças que se espalham velozmente por diversos jogos online. Um levantamento de 2012 revelou que 63% de 874 jogadoras entrevistadas pelo blog PriceCharting já sofreram assédio enquanto jogavam. Em alguns casos, essas mulheres foram obrigadas a ouvir comentários machistas como: “Volta pra cozinha, volta!”, “Já terminou de lavar a louça?” ou, então: “Pega uma cerveja pra mim”. Em outros, foram vítimas de propostas indecentes e cantadas ofensivas.

Um dos casos mais recentes de explícita atitude machista em jogos online aconteceu em fevereiro deste ano, numa partida da primeira rodada da liga oficial de League of Legends da Comunidade dos Estados Independentes.

No início de cada partida de League of Legends, um dos principais jogos de E-Sports do mundo, as equipes podem eliminar cinco personagens do adversário. A equipe que duelava contra Vaevictis Esports — primeiro time feminino em uma liga oficial da Riot Games — efetuou o banimento de cinco campeões suporte, em uma clara provocação machista que reforça um pressuposto da comunidade do League of Legends de que mulheres devem e sabem jogar apenas nesta posição, considerada uma das mais fáceis.

Imagem/Reprodução – Dados sobre a atuação do público feminino no universo gamer. Disponível no site Torcedores.com.

Você pode estar se perguntando qual é a relação disso com o Tibia ou mesmo com casais tibianos dentro do nosso querido MMORPG — e é exatamente isso que pretendo explicar neste texto.

No decorrer dos meus quase 11 anos de estrada neste vasto universo bidimensional que é o Tibia, tive contato com inúmeros jogadores que sempre precisaram, de alguma maneira, “testar” minha “competência” e “habilidade” como jogadora e que, em muitas oportunidades, tentaram me inferiorizar de alguma forma, pelo simples fato de eu ser mulher.

Não são raros os casos de jogadores do sexo masculino que tentaram me explicar coisas mais que evidentes: “é possível obter certa quantidade de exp/h”, DESDE QUE“você saiba jogar”, “que magias você deve utilizar”, “em que lugar você deve se posicionar”. Essa é uma conduta corriqueira e que atualmente é definida como “Mansplaining” (que consiste em um neologismo utilizado para se referir aos grandes gênios fálicos que dedicam seu precioso tempo para explicar algo óbvio a nós mulheres, de forma “super didática”, como se fôssemos incapazes de raciocinar).

Além disso, também enfrentei situações muito desconfortáveis quando passei a ser tratada por pessoas próximas como uma mera sombra do meu companheiro Kankuro.

Não quero entrar em detalhes, mas o leitor precisa saber apenas que eu vi minha individualidade ser negada e o meu esforço pelo avanço — e posterior sucesso — de alguns projetos ser qualificado como “redundante” e até “descartável”. E como se isso não fosse suficiente, ainda testemunhei essas incongruências serem utilizadas para embasar uma injusta e absurda divisão de diversos benefícios conquistados como se Kankuro e eu fôssemos uma só pessoa.

Embora Kankuro e eu formemos um casal, muitos tibianos agem como se cada um de nós não tivesse construído sua própria trajetória, criado seus próprios personagens e desenvolvido suas próprias habilidades e maneiras de lidar com o Tibia e como se o meu papel fosse de menor importância e estivesse sempre atrelado à figura do meu companheiro.

Também comecei a perceber, durante a minha trajetória no Tibia, na escrita, e, por vezes, no tom de voz irônico de muitos jogadores, o quanto eles tentavam me colocar para baixo; sobretudo, em ocasiões nas quais eu posicionava em relação a algum tema mais complexo do jogo.

Com frequência, aparecia — e ainda aparece — alguém do sexo oposto, metido à especialista, para criticar o modo como expresso os meus pontos de vista e a maneira como elaboro os meus argumentos. Grande parte das coisas que costumo dizer a respeito da economia ou mesmo do cotidiano no Tibia são relativizadas, postas em segundo plano ou simplesmente ignoradas.

Com efeito, a realidade feminina em games online, e especialmente no Tibia, pode ser sintetizada em duas reações extremas por parte da maioria dos homens:

1 – Desqualificação da capacidade intelectual feminina, de nossas habilidades e do próprio direito de jogar, com espaço para xingamentos, deboche e tentativas de silenciamento;

2 – Tratamento meloso, em tom de paquera, como se toda mulher estivesse ali para arranjar um parceiro e não para se divertir;

De acordo com dados estatísticos da CipSoft — que podem ser facilmente confirmados dentro do jogo — nós mulheres somos minoria no Tibia, o que contraria a média geral que apresentei no início deste artigo. Mas isso nunca nos impediu de estarmos presentes, ativas e de buscarmos cotidianamente superar a nós mesmas com muita coragem e determinação!

Lamentavelmente, o Brasil é um país extremamente machista (claro que não se trata de um problema exclusivamente brasileiro) e muitos homens não aceitam ser superados por nós mulheres em hipótese alguma. Dentro dos jogos online isso não seria diferente.

E se você acredita que “Tem muita mulher que joga melhor do que homem”, saiba que você também está sendo machista! Pensar dessa forma significa assumir que os homens são naturalmente superiores a nós mulheres e que as nossas habilidades “precisam ser aferidas”, tendo o sexo masculino como grande ponto de referência. Quero dizer que nós mulheres não precisamos disso! Não permitamos que os homens usufruam dessa falsa centralidade que nos violenta, não apenas nos jogos, como também na vida.

É de fundamental importância que levemos à sério o convite de Emanuela Carvalho: “E então, mulheres, vamos abrir espaço, mudar as regras do jogo, e definitivamente trazer a nós mesmas ao centro?”

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Fonte: casaltibiano.com.br

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